sábado, 15 de outubro de 2011

Retardamento

As coisas estão preguiçosas:
Em câmera lenta,
Sol morno
Vento fraco
Cheiro de terra molhada no jardim do vizinho
Olhar suspenso
Fala suspensa
Bicho cabeludo
Forrrrrrrrrmiga
Espreguiçadeira
s-l-o-w-m-o-t-i-o-n


Súbito um pensamento
A mil quilômetros por hora!


quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Crença



Acredito no vento miudinho da manhã
Que sopra pra longe nuvens espessas
Acredito no primeiro raio de sol
Que dissipa toda a escuridão
Acredito que por mais densa
Escura
E longa
A noite tem um fim
No primeiro filete de sol
Da manhã de vento miudinho

domingo, 2 de outubro de 2011

Vida real



Abriu a porta, pegou o buquê, certificou-se de que era seu.
Jogou-o sobre a mesa e correu para sala.
Não podia perder a última cena de amor da novela.

sábado, 24 de setembro de 2011

Oásis

Jogo-me numa cadeira de balanço imaginária, em uma varanda imaginária, em frente a um jardim que fica diante de um mar azul imaginário. Sinto o cheiro da brisa e os minúsculos respingos do mar. Abro os braços, fecho os olhos, sorrio feliz.

Giro.

Em volta somente a imensidão, imagino. Respiro fundo. O ar fresco alimenta delicadamente tudo em mim. Estou plena, imagino. Nada falta. Ao fundo ouço realmente Califórnia Dreamin’ com Rosa Maria. Viajo sem vontade de voltar. Descanso, então.

domingo, 18 de setembro de 2011

Olhos nos olhos


Meus olhos são naves partidas
De um planeta distante
levando sonhos
levando desejos
levando saudades
levando confissões mudas...


Meus olhos são naves partidas
De um íntimo desconhecido planeta
Levando lágrimas
Levando confidências
Levando tristezas
Levando alegrias...


Meus olhos são naves perdidas
Passando por galáxias
Passando por constelações
Passando por buracos negros
Cruzando o infinito


Meus olhos são naves
Que na imensidão do universo
Encontra abrigo
Somente nos teus.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

domingo, 4 de setembro de 2011

Acordos do tempo






_Filho, cuidado! Você vai se machucar...
_Pai, o senhor não pode mais comer isso!
_É assim que se faz. Tenta você agora.
_Não, pai. É muito pesado. Você não tem mais idade...
_ Deixa, filho, que o papai pega.
_ Já tomou seu remédio da pressão?
_ Já fez a lição?
_ Tá na hora de dormir.
_ Não consegue dormir, pai?
_ Durma bem, filho!
_ Durma bem, pai!

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Mal traçadas linhas





Paulo, meu amigo




Ouço Fagner no computador e sinto saudades de ti.

Lembrei-me do tempo do Ensino Médio, 2º grau – como era chamado na época . Dos nossos recreios musicais. Dos seus LPs da Bethânia, do Fagner, Caetano e tantos outros.

Lembrei-me do seu deboche premeditado e irritante que tirou muita gente do sério.

Lembrei-me das muitas gargalhadas que demos juntos, batendo samba nas carteiras da sala de aula.

Lembrei-me do remelexo da Ameixão no “Menina, que dança é essa que o corpo fica todo mole?” – Acho que era assim.

Lembrei-me das fofocas, do pobre do Renildo, do “Marcos à procura da mãe.”, da C-10, da Soninha – quando você gostava das bem magrinhas.

Faz tempo...

Lembrei-me também de nossas tardes na Rua Juruema, estudando Matemática, das festas da turma para conseguir o dinheiro da formatura.

Quem diria que nossa amizade duraria tanto tempo!

Passamos por muito, continuamos amigos.

Somos do tempo do vinil, das últimas canções de protesto da quase morta Ditadura, da calça cocota, do três em um, das festas com jogos de luz.

Faz tempo...

De adolescentes, nem-tão-rebeldes-assim, tornamo-nos adultos sensatos, pais, às vezes como os nossos; às vezes nem tanto.

Belchior! Elis! – nunca me esqueci do seu telefonema quando a Elis morreu: “Como ela foi fazer isso comigo?”

Lembrei-me hoje do quanto tempo ficamos separados cuidando de nossas vidas e de quão mentirosa foi e é esta separação. O próprio tempo já provou. Somos amigos desde a época em que se escreviam cartas como esta e já que não somos mais tão passionais, devemos continuar assim.


De sua amiga,

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Nostalgia






Mergulho
Encharco-me
Embebedo-me
Recebo-a educadamente
Danço com ela sob a luz da lua
Tomamos vinho
Ouvimos música
Conversamos...
Deixo que um nó, levemente,
Aperte minha garganta
Depois de tudo, despeço-a!
Mando-a embora sem cerimônia


E a vida continua, surpreendentemente,
Renovando-se

sábado, 13 de agosto de 2011

Contrários




Vou aos ares num impulso
Volto à terra pés no chão
Vou aos ares na vertigem
Volto ao pó, à razão
Ora sou ave liberta
Ora raízes profundas
Ora de braços abertos
Ora com pesada paixão
Ora gargalhada estridente
Ora lágrimas, comoção...
Mas é no átimo de tempo
No equilíbrio do pêndulo
Que reside meu coração

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

domingo, 7 de agosto de 2011

Solarium

Deixo o sol explorar minha pele
Seu toque delicadamente invernal
Arrepia-me
Aconchega-me
Reaviva-me
O sol
Toca
Tudo
Que sou
Clareia
Esclarece
Ilumina
Sem subterfúgios
Torno a ser
Estampa de vida
Desnudada
Exposta
Querendo
Nesta
Manhã
Nova
Ser.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Invisibilidade


Ninguém via, mas havia sangue no chão.
Ninguém via, mas havia um corpo no chão
Ninguém via, mas havia uma alma no chão
Ninguém via, mas havia lágrimas no chão
Ninguém via, mas no chão estava escrito fim...
Só que ninguém via
Ninguém viu
Ninguém vê

domingo, 31 de julho de 2011

De volta às aulas.


Prof!
Fessora!
Tia!
Há um coral pronto para reiniciar
Vozes desafinadas
Um tom para cada um
Um ritmo para cada um
E um maestro:
Disciplinador
Condutor
Educador
Indicador
Harmonizador...
PROFESSOR!
O concerto continua.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Férias

Não quero pensar
Não quero achar palavras
Não quero encadear idéias
Não quero encontrar o ritmo.
Salve a cacofonia
Viva a dislexia
Que venha a disritmia
Quem sabe a prolixia (existe?)
Sei lá!
Que me encontrem o vento
O cheiro do mato
O sol morno
O céu claro
A visão das montanhas
De pernas pro ar.
Mesmo sem calção de banho
E mar sem tamanho
No bom sentido da palavra
Eu quero é baianar!
 

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Renata



A sala refletia a indiscreta luz do outono. Perturbava a vista, o olhar. A limpeza era tanta que parecia irreal. O branco absoluto mostrava-se azulado pelo dia. Aquilo a incomodava!

Percorria o cômodo em busca de algo fora do lugar, de alguma penugem atrevida, de uma partícula que fosse de pó. Nada!

As luvas eram emboladas entre os dedos pelo esfregar nervoso das mãos. Tornava a olhar. Algo tinha que está fora do eixo!

Quarto, banheiro, cozinha, corredor.

Cama, cômoda, cortinas, sofás, quadros, tapetes.

Pias, vidros, pratos, panelas, toalhas... Im-pe-ca-vel-men- te arrumados.
Era a felicidade completa! Era o sonho realizado! Conseguira...

Tornou o olhar.

Não fazia sentido tudo aquilo. Sentia-se aprisionada. As luvas de repente apertavam.

Através do vidro, o sol clareava tudo. Ofuscava tudo. Fazia tudo mudar. Inclusive ela.
Pensou em comer algo. Atrapalhou-se com as embalagens que embalavam outras embalagens.
Tomaria um banho. Toalhas embaladas, sabonetes embalados. Tupperwares por todos os lados. Organizadinhos, Perfeitamente arrumados.
Não sabia o que fazer. Faltava-lhe ar!

Tirou a capa dos chinelos, tirou os chinelos, tirou as luvas, tirou a roupa, abriu a porta e saiu. Nua! Livre! Alcançou a mangueira no jardim, pisou na grama e tomou um banho frio, com os pés mergulhados na lama, sob o morno sol de outono.
Era a felicidade completa! Era a vida arrepiando-lhe a pele!

sábado, 16 de julho de 2011

Uma e outra



A sexta-feira é santa! Levanta-se às seis. A casa está em silêncio. Apóia-se na velha bengala, caminha até outro quarto e bate com o cajado na porta.
- Ta na hora!
Quem abre é o filho. Em seguida, a nora sai do quarto sem dizer palavra.
Seus noventa anos lhe dão direitos que ela cultiva desde sempre. Não se abala com o mau humor da outra.
A água para o banho aquecida no fogão a lenha como deve ser! A bacia de cobre é colocada no chão do banheiro e salpicada com pétalas de rosa branca. Experimenta. Reclama. Torna a experimentar.
O céu de abril é claro, sem nuvens. Nas plantas do quintal, uma fina neblina se dissipa e revela o orvalho dormindo sobre as folhas. Uma manta de crochê cobre a velha cadeira de balanço, violetas várias enfeitam a jardineira da imensa varanda. O piso de vermelhão brilha.
Toma seu banho, veste-se de linho azul, cuidadosamente passado. Reparte os cabelos em duas tranças presas num coque. Aprova a imagem no espelho e sai.
Uma farta mesa de café da manhã está posta: canjica, bolo, café preto, aipim, batata doce, milho cozido. Certifica-se de que tudo esta a seu gosto, troca os pratos de lugar.
O barulho que vem de fora anuncia que eles estão chegando. Apressa-se. Precisa recebê-los sentada em sua cadeira. Um a um.
- Sua bênção.
A mão estendida espera um beijo e uma reverência.
- Deus te faça feliz!
Eles são muitos, um séquito! Filhos, netos, bisnetos e afilhados. Ela, a Senhora.
Em torno da mesa a oração em voz miúda, porque não é dia de festa.
Olha para a nora. Os pratos não estão no lugar! Recebe de volta o mesmo olhar implacável.
A canjica é servida com amendoim torrado em casa, no fogão a lenha, como a Senhora gosta! Ela mesma fora à cidade escolhê-los para a ocasião. Escolhera também a canjica! Era preciso ciência pra isso. Apesar do cansaço da idade, se não fosse por ela...
Todos discretamente olham para a nora que retribui o olhar com uma altivez inexplicável.
O café termina, vão embora, mas voltam para o almoço de Páscoa, quando seguindo a tradição comerão um peru... do quintal, é claro!


A Senhora balança na sua cadeira de rainha. Absoluta!
A nora prepara a comida para perus e galinhas: amendoim e canjica de primeira comprada pela sogra.


A Senhora balança na sua cadeira de rainha. Absoluta!
A nora termina de enterrar o peru caipira e o substitui por um de supermercado que é mergulhado no incomparável tempero de sua sogra.


As duas na varanda sem dizer palavra...
Quase absolutas.


Farinhas do mesmo saco!

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Constatação


Em vão de porta
Prendo o dedo
Em vão de janela
Entreolho
Em vão de escada
Descanso
Em vão, olho pra trás
A vida de repente passou

Entre os vãos de meus dedos.

domingo, 3 de julho de 2011

Paradoxo




Quero integridade
Inteireza
Unicidade
Encontro, porém
Dualidade
Corpo e alma
Dividindo o mesmo ser

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Reminiscência


R.evivo emoções
E.nquanto vivo outras
M.ergulho no passado
I.ndestrutível liga com o presente
N.ada é exato, a

I.mpressão é vaga, distante:

S.eleciono sentimentos

C.omo se estivessem numa vitrina

E.m vão quero-os genuínos

N.enhum, porém, é como antes

C.ada minuto pretérito é transformado

I.nvadido pelo meu agora

A minha visão é que os anima.

domingo, 26 de junho de 2011

Aos quarenta e....

Nasci em 27 de junho, numa rua repleta de sítios e árvores, às 23 horas numa casa na rua Regina de Moraes 111 ou Cova da onça como os moradores do bairro até hoje a chamam.

Com certeza herdei um pouco da quietude daquele lugar, daquela paz de ouvir murmúrios de riachos, cantos de bem-te-vis e outros tão sutis que nunca pude definir.

A casa onde nasci ainda existe. Morei pouco tempo nela, mas adorava passear por aquela rua sem saída que terminava sob um pedaço lindo de mata atlântica. Cansei de ficar na ponta dos pés tentando ver o que havia por trás das cercas vivas que encobriam casas abastadas de gente que nunca conheci. Era um lugar perfeito para as minhas crises adolescentes, meu ninho.

Quando eu não me entendia, inconscientemente, procurava a minha rua, o meu início.

Passaram-se mais anos do que eu gostaria; a rua agora está cheia de condomínios, entretanto meu olhar sobre ela não mudou. Ainda me vejo com chinelos de dedo caminhando por seu solo barrento, desnivelado, cheio de pedrinhas, misturando sonhos e realidade.

Turbulência cheia de vida!

Hoje, a rua em que moro é asfaltada. As pedras e os desníveis são outros, porém minha janela abre-se para dois grandes sítios cheios de pássaros, árvores, plantas e muitos barulhinhos que ainda não sei definir.

O tempo passou, mas felizmente, presenteou-me com a sabedoria dos anos.
Paz cheia de vida!

sábado, 25 de junho de 2011

Individual


Não sou pedra que se atira em vidraça
Não sou vidraça atingida por pedra
Sou o meio
Mediatriz
Mediação
mediador
Apaziguamento
Diálogo


Entre um e outro
Sou
amortecedor

quarta-feira, 22 de junho de 2011

domingo, 19 de junho de 2011

Ampulheta

A.paixonado tempo que escoa
M.ilimetricamente incalculado
P.erdido por toda a eternidade
U.ltrajado pelo desprezo
L.egado à sua passagem
H.umilha, então, quem não o percebeu
E.smaga friamente a esperança
T.ortura cruelmente o perdedor
A.proxima a vida da morte e perdido não volta atrás.

sábado, 18 de junho de 2011

Sob a pele

Mexo
Remexo
Tranco gavetas
Queimo papéis
Faço promessas
Refaço juras
Nada acontece.

Meu coração torce
Minha mente apaga
Mas meus sentidos não te esquecem

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Delírio extremo

Há um momento inesquecível
De aperto de lábios
Desespero contido
De sussurros secretos
Gritados no ouvido
De congelar minutos
De congelar as horas
De congelar os dias
Os meses
Os anos
Numa cena única de prazer.
E reviver pra sempre em slow motion
O gosto de ter você!

segunda-feira, 13 de junho de 2011

La moitié




Sem você
sou parte
pedaço
metade
fração
Sou
meio
semi
parcial
facção
Sou
hemi
tanto
quase
Se
sou
completa
incompletude
sem você.

domingo, 12 de junho de 2011

Dia dos namorados




Para quem tem


Se você tem namorado, desses que intimamente sabe que é definitivo é par para sempre, encha-o de carinho neste dia. Não economize. Mande flores, arrisque-se em uma declaração de amor bem melosa. Faça-o sentir-se importante, único, como certamente é. Surpreenda-o com uma saudável e criativa loucura de amor.

Se ele for passageiro, transforme este dia numa agradável recordação, daquelas que são ótimas pra curtir em domingos mornos à tarde ou em dias de chuva, aconchegado no sofá diante da tv. Seja terna, carinhosa. Saiba que o outro também quer um dia especial, parecido com cena de filme romântico ou final de novela.
Deixe uma marca indelével dessas que a gente adora contar como foi que adquiriu. Valorize quem está contigo ainda que por apenas um dia dos namorados.

Se o seu par já atravessou com você vários dias dos namorados, reúna os melhores momentos numa bela coletânea, recrie os mais marcantes, dance novamente aquela música, repita todas as juras de amor e presenteiem-se com a felicidade de terem vencido percalços, desavenças, desilusões. De terem vencido o tempo! Recomecem a própria história, ela já provou que vale a pena.

Para quem não tem

Anime-se! H á milhares de pessoas por aí, dobrando as esquinas da vida todos os dias, esperando encontrar o seu grande amor!

Sonhe! Não tenha medo. É desta maneira que a realidade toma forma. Portanto capriche nos detalhes, ouse nos desejos: a próxima esquina pode ser a sua.

Ame-se, presenteie-se. Se você estiver de bem consigo mesma, estará pronta, disposta, disponível para amar.


Seja! Esteja feliz com ou sem. O melhor, certamente, ainda está por vir!

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Experiência


E.nsaio em tubos da vida.
X.is da questão, procuro
P.arte a parte misturadas
E.m gases se tornam
R.enovar é necessário
I.ndagar, investigar, iniciar...
E.mpreitada de cada dia
N.ovo e velho em solução
C.ombinados, em conluio
I.ntroduzem um novo elemento
À. vida: SABEDORIA!

terça-feira, 7 de junho de 2011

Paulo



Paixão exagerada
Apimentado dizer em sua
Urgência poética
Livre e libertário

Obituário da mesmice

domingo, 5 de junho de 2011

sábado, 4 de junho de 2011

Intromissão




Um fraco sol de outono
Teima em clarear
Meu desejo de escuro.
Me faz levantar
Encarar o dia
Viver!


Intrometida estrela!
Queria tanto me esconder
Não atender o telefone
Não ligar a tv


Mas lá vem o sol
E , descaradamente, esclarece todo meu dia!

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Sapeca



Sou milho maduro
No fundo da panela
Sonhando ser pipoca
Esperando pra saltitar
Explodir
Aflorar
No calor
Escaldante da paixão.


Sou quente
Salgada
Saborosa
Desperto tua fome
Acentuo teu desejo

Provoco tua sede


Não te alimento
Sou teu vício
Tu não precisas de mim
Mas não resiste
Saliva
Saboreia
Me devora,
Me engole
Pede bis!


E quando saciado, sabes:
Sou eu, teu maior prazer!

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Bruma




Não falo
Não ouço
Não choro
Não sorrio
Desista!
Não estou!


Ando por aí
Por pensamentos perdidos
Por lembranças confusas
Por abraços não dados
Por beijos só desejados


Ando por aí
Onde não há
Vago, esmaeço
Leve pluma
Fumaça
Nuvem
Mariposa à sombra
Dor que não passa


Não sei quem sou
Estou incógnita de mim!

sábado, 28 de maio de 2011

Infinitude




A boca cheia de saliva

O corpo cheio de desejo

A vida toda contida

No breve tempo de um beijo

sábado, 21 de maio de 2011

Pranto


A chuva contra minha janela
suave, delicada
Sussurra segredos de amor perdido
Chora baixinho sua dor
Escorre pelo vidro enfraquecida
Não posso parar essa chuva
Não posso parar seu lamento
Tento, então,colhê-la.
Com a palma da mão
ofereço carinho
à chuva que chora.
Seu pranto baixinho
ecoa em meu peito


Tadinha da chuva
Gemendo baixinho
Espalhando no ar
Seu choro de amor.

domingo, 15 de maio de 2011

Resposta




O dia chegara com olhos inchados. A noite fora extremamente longa.

Óculos escuros era a única solução possível para enfrentar o cruel sol que explodia do lado de fora.


Que luz era aquela? O dia merecia nuvens carregadas, raios, trovões e até gargalhada de bruxa. Entretanto, o sol brilhava.
A escova de dentes, o banho, o uniforme, o material escolar, os fones no ouvido, o estômago vazio...

Saco! A escola...

Queria estar em qualquer lugar do mundo, menos ali.


O mau humor, o corredor, as escadas, a parede pichada, a boca aberta!

O coração aos pulos, os degraus passando rapidamente, a sala, o lugar na sala, o fichário, o sorriso discreto.

- Quem escreveu “EU TAMBÉM AMO VOCÊ”?


Lá fora o sol começava a fazer sentido.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Couple




Olho no olho


          Mão na mão


Rosto no rosto


         Mão cintura


Tremor na alma


        Perna a perna


    Rodopio!


Mão na mão


       Rosto no rosto


Compasso cordial


       Pra lá


Pra cá


    Rodopio!


       Olho no olho


Mãos entrelaçadas


      Bocas unidas


Suores trocados


      Aceleração cordial


   Rodopio final!

domingo, 8 de maio de 2011

voraz



Fico observando uma lagartixa colada no vidro da janela.

Minha mãe diria que ela não tem modos! Arreganhada desse jeito, toda exposta.

Minha filha se arrepiaria, sentiria medo, nojo. Não olharia.

Eu a observo. Será que ela sabe que está assim tão exposta, tão vulnerável?

A lagartixa, no entanto, tem os olhos fitos nos insetos pululando à luz da lua. Talvez nem se interesse em saber a nossa opinião. Sem vergonha nenhuma, deseja.

Dane-se todo o resto!


De vez em quando me serviria ser uma lagartixa... Completamente focada em meus desejos. Grudada na tua janela despudoradamente.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Turbulência




Queria escrever um texto calmo que saísse de mim e pousasse languidamente na virtual folha de papel.

Não sou assim! Meus textos são ansiosos, temem não alcançar a luz. Temem alcançar a luz.

Inveja eu tenho muita de quem consegue ruminar seus escritos, escolher para eles o melhor tempo e lugar; a melhor palavra.

Meus textos são ansiosos! Vomitam verdades e mentiras com medo do arrependimento. Saem pela fresta da porta espremidos, em fuga, porque não podem mais habitar apenas em mim. Querem vozes outras, olhares díspares para não morrerem sufocados. Saem, porque precisam de ar!

Há paz quando na folha de papel. Descanso merecido da turbulência em mim.

domingo, 1 de maio de 2011

Flash Back


Ouvir música sempre me fez viajar. Desde menina, perco horas sonhando, criando cenas com trilhas sonoras. A música é parte da minha própria história.

Minha mãe cantarolava Dolores Duran, Agostinho dos Santos, Ataulfo Alves; meu pai, Nélson Gonçalves. Engraçado que mesmo estando em plenos anos 70, eu gostava. Saboreava aqueles versos ainda que naquele momento não tivessem nada a ver comigo.

Guardei-os todos na memória. Até hoje sei cantá-los.

Lembro-me, também, de ouvir nas manhãs de domingo, um programa do governo sobre a história da MPB. Fico pensando que tipo de criança eu era.

A verdade é que na minha lembrança há músicas de todos os tipos, gêneros, letras... Muitas vezes, meus irmãos e eu lustrávamos o chão da nossa casa dançando disco music. Comunicávamos arbitrariamente nossa alegria com todo o bairro, colocando duas caixas de som na janela e elevando o volume ao máximo. Ninguém reclamava.

Mais tarde, já adolescente, minhas paixões sempre tinham uma canção preferida: lenta é claro! Pra fazer chorar aos montes. Normalmente temas de novela.

Saindo da adolescência, trabalhei por nove anos em rádio. Que paraíso!

Hoje, enquanto escrevo, ouço música. Média batida, porque não sofro de amor perdido, mas também não ando por aí saltitando.

Tudo tem seu tempo. O meu, tem acompanhamento musical.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Felina



Basta!
Eu confesso
Chega de tanto disfarce
De tanta compostura
De tanta mancha
Pra encobrir o descoberto
Pra sufocar o gritado
Não quero você
Quero o prazer que mora em ti
Não quero você
Quero o cheiro que vem da tua pele
Não quero você
Quero o gosto da tua boca
Não quero você
Quero o toque da tua mão
Não quero você
Quero o sal do teu suor
Basta!
Não sou menininha
Não sou boazinha
Sou ambiciosa
Ajo premeditadamente
Planejo cada próximo ato
Cada próximo passo
Sou interesseira
E meu maior interesse
É explodir de prazer em teus braços.


Só o que eu quero é você inteiro em mim e eu completa em ti!

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Retórica


Pergunta:


- Existe plástica para remover cicatrizes da alma?



Outra pergunta:

 
- Por que, se os olhos não veem, o coração continua sentindo?




Mais uma:


- Se saudade só existe no Brasil, mudando de país ela vai embora?




quarta-feira, 27 de abril de 2011

Insossa





Sábia
Sensata
A mente recusa
O que pede o coração.


Prudente
Temerosa
Espera conscientemente
Passar o tempo


Só por hoje
Não enlouquecer
Só por hoje
Não apaixonar
Só por hoje
Não mergulhar na emoção
Só por hoje não errar...


Sábia
Sensata
Sem sal!

sábado, 23 de abril de 2011

Cristina


Dezenas de pessoas sentadas na pedra com olhos atentos diante do mar. E ela só. Alguns têm binóculos e parafernálias tantas riem conversam têm os olhos atentos na linda tarde desenhada. Impossível ser infeliz! Possível pra ela. O mar se agita e bate nas pedras espuma respinga refresca a pequena multidão. Só ela fria. Intacta. Imóvel. Congelada de dor.

O espetáculo começa uma densa cortina esconde o sol num ritmo lento e os olhares em suspense se sentem privilegiados de lá estar. Durante e ao fim da sessão tão esperada espocam os flashes poesia são feitas amores confirmados abraços são dados e ela só. Um violão geme todos acompanham formam um coral de estupefação e agradecimento em frente ao mar em cima da pedra ouvindo o barulho das ondas ao fundo. E ela só.

Quando o sol novamente brilha gritos aplausos ecoam no ar.

No fim de tudo todos se vão e ela sozinha imóvel e intocada envolta em dor abre os braços pro nada e mergulha no mar. Sem aplausos, sem flashes, sem público. Só! como sempre foi.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Veneris dies




Sexta-feira!
Todos os anúncios
Todos os prenúncios
Todos os desejos
Contidos na caixa
Na cesta
Na banca da feira
Da sexta.
É só escolher
Qual é o seu?

quinta-feira, 21 de abril de 2011

XX - chuva no sertão

Arte do livro Asa Branca feita com nanquim e guache - Maurício Pereira


Cai do céu a bênção
Cheiro de terra molhada
Torna lama o pó

terça-feira, 19 de abril de 2011

2011




Pelas vítimas da chuva

Escutai a nossa prece


 
Pelas vítimas da dengue

Escutai a nossa prece


 
Pelas vítimas do terremoto

Escutai a nossa prece


Pelas vítimas do tsunami

Escutai a nossa prece


 
Pelas vítimas do tornado

Escutai a nossa prece


 
Pelas vítimas de Realengo

Escutai a nossa prece


 
Pelas vítimas do ódio

Pelas vítimas da política

Pelas vítimas do abandono

Pelas vítimas da mentira...



Escutai, Senhor, a nossa pressa!




domingo, 17 de abril de 2011

Terezinha




A primeira vez doeu muito. Tive vontade de gritar, mas me calei. Senti tanta vergonha!

Pensei em me mudar, sair da cidade. O tempo foi passando e como não tinha mesmo pra onde ir, resolvi esquecer. Começar de novo pareceu-me a melhor solução.

Esmerei-me em cuidar de tudo. Não queria dar motivos. A casa sempre limpa, cheirosa, a comida bem feita, a roupa limpa e passada com capricho. Tudo perfeito. Não havia motivos. Mas mesmo assim não evitei uma segunda vez.

Fiquei alguns dias trancada em casa, até que as marcas sumissem. Até que ninguém mais além de mim, pudesse vê-las.

Pensei muito e concluí que a culpa era minha. Não estava sendo suficientemente boa. Tinha que procurar melhorar. Claro! Pensei novamente em ir embora. Não fui. Faria de tudo para que não acontecesse de novo. Seria mais eficiente desta vez.

Fiz uma dieta. Queria estar mais bonita, mais atraente. Quem sabe assim você se acalmaria... Não adiantou.

A terceira vez não tive como esconder de ninguém. As marcas eram tantas, o sangue era tanto que gritei. Reuni todas as minhas forças e gritei. Uma multidão apareceu pra me socorrer. Não entendi muito bem. Era como se eles já soubessem, como se apenas estivessem esperando meu grito.

Ouvi alguém dizendo “Tadinha! Tão boazinha, tão caprichosa... Apanhar desse jeito!”

Minha maior dor é nunca ter ouvido de você um pedido de desculpas. Não perceber em você arrependimento.

Por que não fugi? Por que não gritei antes? Não sei. A vergonha era tanta...

sábado, 16 de abril de 2011

Odete



Nunca fui mulherzinha. Sou esporrenta, não levo desaforos pra casa. Se gritam comigo, falo mais alto. Se quero alguma coisa, vou atrás. Em criança, chamavam-me de moleca, mulher-macho. Mais que nada! Gosto de homens. Principalmente dos fortes, que sabem segurar uma mulher. Conheci um há muito tempo. Alto, sem frescuras, largadão, sandálias nos pés. Sempre de bermudas. A gente se entendeu muito bem. Futebol, cerveja, churrasco, cama. Ríamos de tudo. Éramos parceiros em tudo. Ficamos assim, repartindo a vida por quase trinta anos! O idiota morreu e me deixou aqui.

Tem problema não. Sou de encarar, não de fugir. Resolvo tudo com meia dúzia de palavrões: tristeza, saudade, solidão, desesperança... Não tem tempo ruim.

Estou meio preocupada, ultimamente quase só falo palavrões. Tenho até me esquecido das outras palavras...

Dane-se! A vida continua. Esse negócio de sofrimento não combina comigo. Não sou mulherzinha! Porra!