domingo, 23 de maio de 2010

Sinais

-Assim? De repente?
-Claro que não!Você não percebeu os sinais?
-Que sinais?
- Ora, todos!
- Não, não percebi.
- É eu sei. Devia saber que você não perceberia mesmo. Nunca percebe nada! Vive nesse mundinho, sempre fazendo as mesmas coisas, preocupada em economizar, em manter armários arrumados, em conferir as notas dos meninos, em ver se a minha roupa está bem passada. Em fazer chazinho a cada dor de barriga dentro desta casa, que não notou as mudanças.
- Pensei que estava fazendo o que era certo...
- Você é muito previsível! Eu chego em casa e sei que você vai estar esperando, de banho tomado, perfumada, com o jantar pronto e os meninos já tendo feito a lição de casa. Nada muda!
- Pensei que você se sentisse bem... que eu lhe fazia bem...
- Bem demais! Nunca vi tanta paz! Estou cansado.
- Eu posso mudar.
- Não, não pode. Você é assim. Impossível você mudar! É isso! chegamos ao fim! Nosso casamento é um tédio.
Acordou assustada, suando. Sentiu uma enorme sensação de alívio ao perceber que sonhara. Olhou para o lado, viu o marido dormindo serenamente. O medo se instalou em seu coração. “E se tudo aquilo fosse um aviso? Um sinal?” Estremeceu só de pensar. Levantou-se. Desde quando era mulher de premonições? De crendices? Teve um dia cheio, por isso o pesadelo. Aquele doce que a sogra mandou também deve ter feito mal. “Nem estava bom.”
Tornou a olhar para o marido, desta vez, desconfiada., inquieta.
Tomou um banho, vestiu a lingerie nova, pôs o vestido mais bonito, meias finas, salto alto. Saiu do quarto batendo levemente a porta.
O marido foi encontrá-la sentada na varanda, pernas cruzadas, insinuante... Surpreendeu-se. Não entendeu nada! Fechou a porta com cuidado para não acordar as crianças.
Sobre a pequena mesa, uma garrafa de vinho, duas taças. Achou melhor manter o silêncio. Serviu o vinho e dançaram juntos uma música que só eles ouviam.
A desconfiança agora habitava os pensamentos dele!
Um primeiro beijo e as taças foram esquecidas. Sorriram, cúmplices da mesma aventura, partes do mesmo desejo. Um segundo beijo e as mãos se entrelaçaram ávidas. Um terceiro e corpo e alma se tornaram um
No céu, as nuvens tornavam a madrugada mais escura.
Na varanda, nunca a paixão fora tão clara!

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