sexta-feira, 19 de abril de 2013

Anonimato




A porta entreaberta deixa entrar a luz da rua. Bem-vindo escrito em verde no tapete. O cinzeiro repleto de ansiedade manchada de vermelho. Sobre a poltrona a bolsa branca de verniz derrama chaves, nécessaire, clipes que se escondem agora nos rasgos do velho sofá.
A luz não alcança o gotejar da garrafa de vinho tingindo o piso. O cheiro embriaga.
No fundo do cômodo, um colchão jogado ao chão, um corpo jogado sobre o colchão. As pernas sobram. Os saltos espetam o ar. A lâmpada pendurada não pode esclarecer. Ninguém pode.
O sono é infinito. A tristeza é infinita. Ressoam no quadrado frio e sem ninguém.
Ninguém está deitado. Ninguém sabe quem é.
A luz já não entra. Não há o que iluminar.
No escuro, o sono é pra sempre... Pesado de dor.