sexta-feira, 7 de dezembro de 2012










Milagre

Fui entretecido
Ocultado
Protegido
Fui segredo revelado por Ti
No Teu tempo
Sem pressa...
Sou projeto Teu
Sou Teu sopro de vida
Sou barro modelado por Tuas mãos.
Todos os meus dias são conhecidos por Ti
E tu já providenciaste suprimento para cada um deles
Sou porque Tu permites
Sou porque tu me amaste antes
Sou porque Tu és eternamente!


quarta-feira, 21 de novembro de 2012












Visagem





A brisa da manhã invadiu seu quarto. Quase ninguém na rua. Ninguém em casa além dela.
Desceu as escadas suavemente. O cheiro da manhã a entorpecia.
Saiu a caminhar. Cabelos soltos, sonhos leves, pele arrepiada.
Flutuando pelas ruas, não percebia os olhares atônitos. Gozava a manhã.
Andou até ter os cabelos umedecidos pelo suor, a camisola colada ao corpo...
Os olhares cada vez mais atônitos!
Novamente em casa, tomou um longo banho, pôs seus vinis na máxima altura, abriu as janelas e dançou. Sentia-se, então, menos só.
Chovia, quando abriu os olhos. Uma chuva cor de prata inundava seus olhos, iludia seus ouvidos...
Outra vez, as escadas, a porta, a rua...
Alguns guarda-chuvas davam o tom sério à manhã de prata, enquanto os olhares transpareciam prazer.
A manhã tornava-se bordada de renda.
De braços abertos, ela experimentava a vida trazida pelo novo dia. Os guarda-chuvas a emolduravam. Silenciosamente, destacam sua beleza.
Comprou flores, trocou os lençóis, cuidou do jardim. Mais tarde recitou seus poemas favoritos em alta voz diante do espelho. Riu e dançou. Era uma menina! Uma estudante travessa no seu quarto de segredos.
A manhã surpreendeu-a nua sob os lençóis bordados.
Um arrepio! Seus pés sentiram a aspereza da calçada. Ela vibrava. O contato era surpreendente. Arriscou mais um, mais outro. E passo a passo cruzou a praça sob olhares novos e antigos: emudecidos, estupefatos. Era linda!
Era menina, moleca, mulher. Nua! Envolta na densa neblina daquela manhã.
Tudo a contemplava.
Quando ele chegou de viagem, encontrou-a diferente. Sem amarras, sem medos, sem limites...
Encantou-se. Amou-a ainda mais. Pelas ruas, ostentava a mulher com um sorriso de canto a canto.
Os olhos da cidade agora se cruzavam, segredando o desejo de vê-lo novamente partir. Invejando-o cúmplices.




domingo, 12 de agosto de 2012








Prisão

O sol na vidraça. As mãos geladas, os pés gelados.
Quase meio-dia.
O dia pede cobertor, proteção contra o frio.
A vida também.
Tenta se aquecer, fazer alguma coisa que anime. Não dá.
O sol insiste contra a janela, mas perde.
A vida insiste contra o desânimo, mas perde.
Só resta o cobertor: proteção e esconderijo.
Lá fora há vida. Todos, ao sol, aquecem-se.
Aqui frio.
Frio nas mãos, nos pés, na pele, na alma...
Sob um cobertor de solidão, a vida adormece.
E o sol radiante... lá fora.


sexta-feira, 30 de março de 2012





Egocentrismo


O alarido invade meus ouvidos ofendidos. Quero silêncio. Não tenho.
Ainda é manhã e vespertino. Talvez até anoiteça, madrugue. Não sei.
O barulho continua. Eu continuo. Queria poder parar os dois. Dormir? Acho que não. A vida me chama. Só a queria um pouco mais silenciosa. Estou sensível! A poeira me incomoda o nariz, a claridade os olhos, o barulho... Maldito!
Quero silêncio de música escolhida. Quero o silêncio de livro preferido, quero o silêncio de amigos queridos por perto, quero o silêncio de estar em casa, em família. Quero o silêncio da agenda fechada. O silêncio de sonhar de olhos abertos, de escolher o que contemplar, quero o silêncio do sol de outono sobre a pele...
Quero discrição, segredo, intimidade.
Quero esquecimento.
Quero lembrança.
Quero de novo o mesmo.
Quero! E-go-ís-ti-ca-men-te!
Um outro lugar que não seja aqui.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Solução




A ansiedade a consumia.
Já havia comido salgados, já havia comido doces, já tinha pensado, já tinha parado de pensar... Nada! Absolutamente nada resolvia aquele incômodo no peito, aquele nó na garganta, aquela ideia teimosa em sua cabeça.
Pensou em sair, mas já era muito tarde e perigoso. Arrumaria os armários! Estava cansada demais para isso. Um filme! Isso! Um bom filme era o remédio! Não conseguiu se concentrar.
Pânico. Caminhou nervosa pelo pequeno apartamento. Ouviu um pouco de música. Respirou fundo várias vezes... Desistiu.
Ligou o computador e na folha virtualmente branca, despejou suas mais profundas angústias.
Estava feito. Dormiu como um bebê.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Para Manu, no seu aniversário!


Menina bonita sem laço de fita
Apressa o passo, urgência de vida
Não conhece... não sabe...inventa!
Ultrapassa limites sem ver
Experimenta o novo ar nas narinas
Leve, esguia, bela menina
Ampara o futuro nas pequenas mãos