domingo, 26 de setembro de 2010
Paixão
Estou longe
Muito longe do alcance de suas mãos
Por que as sinto então?
Estou longe
Muito longe do alcance do teu cheiro
Por que o sinto então?
Estou longe
Muito longe de alcançar você
Por que então você vive em mim?
Estou longe
Muito longe de mim
Perto
Demasiadamente perto de ti
quinta-feira, 23 de setembro de 2010
sexta-feira, 10 de setembro de 2010
Involuto
(Para Cláudia Lemos)
Quero a involução
A proteção contra os ventos
Útero da mãe
Turbulência amniótica.
O desequilíbrio de voltar
O ser ainda sem ser
Todos os caminhos por andar
Todas as guerras por vencer
Quero o grito de mãe
Na hora de parir
O choro engasgado
A dor de nascer
Coragem para voltar
Tudo feito novo
Certeza de não errar
Leite materno como sustento
Quero vida inteira
Apagada as besteiras
Quero vento novo
Soprando semente verdadeira.
terça-feira, 7 de setembro de 2010
Se
“Se você vier pro que der vier comigo” *
Eu prometo me esquecer de que sou uma menina certinha, criada pra não errar.
Faço de conta que não fiz o catecismo,
Que nunca confessei meus pecados ao padre
Que nunca rezei duas ave-marias e um pai-nosso.
Nasço de novo,
Torno-me sem medo de pecar.
“Se você vier...
Pro que der e vier”
Solto os meus sonhos mais loucos
Sem limites
Sem cobranças
Só pra te amar.
“Se você... comigo”
Eu te levo por meus caminhos
Que ainda não conheço
E como tudo é novidade
Andaremos sobressaltados
Com o coração sempre aos pulos
Como em toda paixão.
Se você vier...
Se você vier pro que der vier...
Se você vier, comigo
Eu fico inteira.
*Trecho de Geraldo Azevedo/Renato Rocha em Dia Branco
domingo, 5 de setembro de 2010
O tule preto
Ela se trancou no quarto, triste que estava. Fechou atrás de si a porta.
Aos poucos criou para si um mundo à parte. Mas o sol teimava em entrar pelas frestas da janela todas as manhãs.
Fechou as janelas. Teceu com esmero um vestido longo e preto, de modo que seu corpo não mais se mostrasse.
Lá fora, o tempo encarregava-se de transformar a vida. O vento sempre trazia mudanças. Dentro, tons sobre tons cuidadosamente escolhidos: todos escuros. Rosas de organza grená passaram a enfeitar o jarro. Cortinas marrons cobriram o que restava de luz nas janelas. Em cada nova peça dedicava-se por completo.
No início, o tempo bateu na porta trazendo os ventos de outono convidando-a a olhar para as belas folhas douradas sobre o chão. Nada! Voltou trazendo delicados raios de sol para aquecer os dias frios. Em vão! Paciente, trouxe-lhe flores, folhas, frutos, exuberância! Não adiantou. Em sua última tentativa, chegou com o calor dos afagos, com temporais de alegria, com trovões e raios anunciando festa. Então ela quis sair. Mas quando tirou dos olhos o tule preto, nada enxergou. Mesmo assim tentou. Seus pés, no entanto, não conheciam o caminho para a porta e esta, tanto tempo fechada, tinha virado parede...
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