quarta-feira, 26 de maio de 2010

Tormenta


O que vestir? Deveria estar sóbria, casual, elegante, sensual?
Todas as roupas sobre a cama. O coração disparado, uma emoção adolescente.
Renascia!
Decidiu-se por uma levemente sensual. Penteou caprichosamente os cabelos...
A alegria era tanta... nunca se vira tão radiante.
Um batom percorreu cuidadoso seus lábios. Estava pronta! Não! Perfume! Discreto... apenas para quem chegasse mais perto.
Fazia tanto tempo... Eram praticamente adolescentes quando se conheceram. Namoraram por pouco tempo. Desencontraram-se. A rigor não sabia por que seu coração se alegrava tanto.
Um vento forte e indiscreto teimava em trazer de volta sua juventude...seus desejos.
Estava quase na hora. O coração aos pulos.
Tinha arrumado a casa. Tudo estava em ordem. Menos ela.
Muito tempo! Muito tempo havia passado! Lembrara-se dele em algumas ocasiões, mas se convencera de que não era importante. Às vezes imaginava o que teria acontecido, como poderiam ter se distanciado tanto... mas voltava à sua rotina. Era feliz. Poucas reclamações, vida organizada, trabalho certo. Sempre quis viver assim.
Novamente o vento e o cheiro de sonho, de aventura, de desejo a entorpeciam. Faziam-na pensar na insatisfação crescente com a calmaria que criara para si.
Ainda não sabia como lidar com a novidade. Não era importante. Queria e pronto!
Agora o tempo passava lentamente.
Tinham se descoberto. Iam se ver.
Tentava não pensar em como seria ... pensava teimosamente em como seria.
O tempo devagar, o desejo cada vez mais intenso.
Será que ainda poderia despertar no outro a mesma paixão? Os anos tinham passado, as marcas estavam presentes. Medo... Homens perto da meia-idade gostam de jovenzinhas.
Estremeceu.
Não abriria a porta. Não estaria em casa. Ligaria e diria que houve um imprevisto.
Não suportaria ter envelhecido para ele. Queria ser a mais bonita, queria que ele se arrependesse de ter ido embora...
Queria ser a mais inteligente! Ele a olharia e pensaria: “Puxa! Como pude perdê-la!”
Encheu os pulmões de ar e a mente de coragem. A campainha finalmente tocou.
Sentiu-se um pouco tonta. “A cabeça em maresia” . Abriu a porta. Entraram sonhos e desejos.
O tempo para.... A vida para.... Os braços poucos. Os beijos loucos. “O que era aquilo? Que maravilhoso descontrole acontecia logo a ela, tão certinha?”
Muito tempo! Sentia agora o coração do outro respondendo ao seu. Olharam-se. Sorriram de si. Procuraram por uma explicação. Não havia.
O vento trouxera uma tempestade.
Finalmente, era o tempo de vivê-la!

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