sexta-feira, 15 de abril de 2011

Cristal




Sou mulher. Às vezes minto. Não porque goste ou não tenha caráter, mas por absoluta falta de opção. Como dizer a verdade se ela vai magoar, ferir? Como dizê-la sem escandalizar a todos e a mim mesma? Sem preparação alguma, tornar-me outra pessoa? Apresentar uma outra face de mim?
Sempre tive sonhos previsíveis, aceitáveis, conhecidos. Que personagem é esta que agora me invade e quer mudar tudo que sei de mim, trocar meus planos por outros?
Minto. A verdade é por demais devastadora, contraditória, infame!
Minto. Não quero conhecer a outra.
Minto. Não quero ser outra.
Sempre acreditei que era assim: bonitinha, comportada, amiga, companheira... Medíocre!
Minto. Espremo a outra com todas as minhas forças para dentro de mim. Fecho-lhe a boca, tolho seus sentimentos, crio um mundo em que ela não pode respirar. Mato-a sem dó, todos os dias.
Minto, mas venço! Não sou assim tão frágil! Iludo todo mundo, iludo a outra...
Iludo a mim


6 comentários:

  1. "Quem olha para fora sonha, quem olha para dentro desperta."

    Carl Jung

    (seria um consolo???)

    Beijao

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  2. Muito lindo e reflexivo!beijos,chica e um ótimo fds!

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  3. Olá,Valéria!

    Lindo o texto!!
    Cada qual escolhe com o que pode conviver...
    Beijos pra ti!!
    Bom final de semana!!

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  4. huum, um poema diferente do que tenho visto aqui.

    Querida, obrigada pela visita lá no escafandro. bjs bjs bjs.

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  5. Essas adoráveis e insanas mulheres estão viajando tanto que foram parar no lugar errado? será? ou elas estão aqui na certeza?
    Muito bom Este conto e o conto Odete.
    Adorei!

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