segunda-feira, 15 de novembro de 2010

A fuga.




Descemos a rua de mãos dadas. “E se alguém nos visse?” meu coração não parava de perguntar, mas apesar do medo que juntos respirávamos, estávamos decididos. Seria assim!

A escuridão da rua repleta de árvores, a neblina, o silêncio, nada nos assustava mais do que a possibilidade de sermos surpreendidos.

Apertávamos a mão um do outro. Olhávamos um pro outro. A cada olhar nossa certeza crescia.

Chegar até o final da rua, pegar um ônibus, sumir! Era só no que pensávamos. Com certeza daríamos uma resposta a todos que queriam nos impedir de vivermos uma grande história de amor.

O ônibus surgiu no meio da madrugada fria com grandes faróis acesos. Olhamo-nos com a felicidade estampada em nossos rostos. Conseguiríamos!

Entramos juntos, ao mesmo tempo, quase correndo. O motorista sorriu. “Cuidado se não quebra!” Não entendi. Não importava, porém. Estávamos a alguns minutos de ganhar o mundo, a liberdade de sermos felizes.

Uma ambulância passou por nós em disparada. Tive pena de quem precisava dela àquela hora, mas não deixei que isso roubasse minha alegria. Debrucei minha cabeça no ombro do meu amor e senti-o me abraçar com uma ternura inédita. Mais uma vez nossos olhos revelavam todo o sentimento de nossos corações.

A ambulância estava na rodoviária, algumas pessoas se aglomeravam. Certamente alguém se acidentara e devia estar caído por ali.

Saímos do ônibus. O motorista mais uma vez sorriu “Você devia tê-lo embrulhado, ficaria mais protegido.” Pensei: “embrulhar o quê?” Na calçada um estranho homem aproximou-se e se ofereceu para levar nossas bagagens. Aceitamos. Estávamos cansados com a correria.

Gentilmente nos levou até o ônibus e nos acomodou. Partimos! Estava feito! Ninguém mais impediria a nossa felicidade...



- Você viu? Era ela!

- Ela quem?

- A mulher do espelho.

- Aquela que anda com um espelho dizendo que é o noivo dela?

- Essa!

- Dizem que ficou louca ao ser abandonada no altar. A família não aceitava o casamento e deu dinheiro pro noivo fugir.

- Nossa! Coitada...

_ Já faz muito tempo, mas até hoje ela tenta realizar o sua história de amor.

8 comentários:

  1. Faz lembrar de algo que vivi. E que se perdeu já faz muito tempo...

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  2. Fiquei curiosa com as questões que você sobrepõe no conto. Gostei

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  3. Amiga, minha nossa! Emocionei-me com esse conto... O Amor quando verdadeiro realmente ultrapassa todos os limites e sentidos... Querida, receba meu carinho... Bjsss

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  4. Ei, xará, agradeço a visita ao textura!
    Quase que somos homônimas, pois só não sou Soares por nem sei que motivo [todos os netos da família dão o 'soares' da graça, menos eu e uma irmã :/

    Belo conto, eis aí uma coisa que não domino...no máximo arrisco umas prosas poéticas e muito de vez em quando [o curioso é que em 2005 ganhei um concurso de contos aqui da cidade, mas o texto era tudo, menos conto...rss].

    Beijo!!
    Val

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  5. Valéria, obrigado pelas visitas e pelos comentários no meu blog. Gostei muito do seu, dos seus escritos poéticos e virei sempre por aqui. Beijo.

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  6. Valeria, gostei do texto, da construção, mais ainda do final!

    Parabéns!

    bjs

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  7. gostei muito do teu conto, da velocidade dos acontecimentos

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