sexta-feira, 2 de julho de 2010

Desencontros I - O perfume.





Olha ao redor. Verifica se não esqueceu nada. Sai. No coração um misto de tristeza e alívio. Do táxi, vê pela última vez o prédio, a rua, as pessoas com quem se encontra todos os dias.
Aos poucos, tudo vai ficando pra trás. O sofrimento, a decepção... o amor!

Ele quer chegar em casa o mais rapidamente possível. Está animado. Inscreveu-se em um grupo de apoio, o chefe lhe deu uma nova chance. Tudo vai mudar! Tudo vai melhorar!
Sobe as escadas pulando os degraus. Quase quebra a chave de tão ansioso. Ela não está.
“Deve ter ido à casa da irmã”. Pensa em ligar. Controla-se. Joga fora todas as garrafas de bebida, o baralho da sorte e a agenda com o telefone dos amigos de balada. Prepara um jantarzinho para dois. Luz de velas, flores, música suave. Espera. Espera. Adormece.

Do outro lado da cidade, o ônibus parte. Finalmente, ela chora. “Se ao menos ele tivesse me ouvido... procurado ajuda... abandonado os amigos...”

Ele acorda sobressaltado. Abre as gavetas, os armários. Nada! Apenas um frasco de perfume francês que ele lhe dera no primeiro ano juntos. Ela adorava aquela fragrância, ele adorava senti-la no seu corpo. Chora. Perdeu-a. Sabe que não mais a verá. “Se ao menos eu a tivesse ouvido... procurado ajuda quando me pediu... abandonado os amigos a tempo...”

A viagem apenas começa, abre a bolsa, pega um pequeno vidro. Há nele um pouco de perfume francês que pegara antes de sair. Passa-o, delicadamente, pelo colo. Arrepia-se. Tem certeza de que não haverá mais amor como aquele. Guarda o pequeno vidro com cuidado. Adormece.

Olha mais uma vez para o vazio do guarda-roupa. Percebe que está molhado. Passa a mão. É o perfume! Levou um pouco dele junto com ela! Cheira-o insistentemente. Sente-a ali. Odeia-se por perdê-la. Guarda cuidadosamente o perfume. Na sala, as velas se apagam. Somente as flores ainda têm vida.

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